Ícones

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Video-histeroscopia

Video o quê? video histero... hã?? Não confundam histerossalpingografia e videolaparoscopia com videohisteroscopia.


Resolvi fazer esse post para falar de um procedimento super importante em ginecologia, mas que gera a maior confusão na cabeça de muita gente. Como eu trabalho com isso, vejo muitas pacientes perdidas, sem saber direito o que vão fazer, pra quê fazer e de que maneira fazer o procedimento. 

Video-histeroscopia é uma endoscopia do útero. É um procedimento usado para examinar o útero por dentro e realizar cirurgias dentro dele, através da vagina. O interior do útero é como uma bola de aniversário vazia. Se eu colocar um canudinho dentro dela não vou enxergar nada, mas se eu encher a bola de gás ou de soro fisiológico e colocar uma câmera na ponta do canudinho e iluminar com uma lâmpada eu consigo visualizar todo o interior desta bola, certo? Isso é a histeroscopia. Através de um aparelho fino e comprido contendo uma microcâmera, fonte de luz, entrada para o meio distensor (gás ou soro fisiológico) e entrada para pinça auxiliar (tesoura ou  biópsia, por exemplo) eu consigo examinar o interior do útero e realizar biópsias e pequenas cirurgias. Toda a imagem captada por este aparelho aparece num monitor e pode ser gravada e fotografada em tempo real. 

exame histeroscópico: aparelho dentro do útero
(imagem do site da clineg)
Existem três diferentes tipos de histeroscopia. Até médicos que não são especialistas se confundem, claro, e vocês verão o motivo. 
       Video-histeroscopia diagnóstica (exame, em ambiente ambulatorial, quando não é necessário fazer biópsia)
       Video-histeroscopia cirúrgica para biópsia dirigida ou lise de sinéquias (também é um exame, realizado em ambiente ambulatorial ou hospitalar, com ou sem anestesia. Também pode retirar pequenos pólipos, sinéquias, retirar de corpo estranho, reposicionar DIU)
       Video-histeroscopia com ressectoscópio (é a cirurgia propriamente dita, em ambiente hospitalar, necessariamente com anestesia)

Há muitas indicações para se realizar a histeroscopia:

Sangramento uterino anormal
Dor pélvica
Corrimento vaginal persistente
Pesquisa de infertilidade
Sangramento pós-menopausa
Auxílio na inserção de DIU e reposicionamento de DIU
Retirada de corpo estranho intra-uterino
Suspeita de incompetência istmo-cervical
Diagnóstico e Acompanhamento de doença trofoblástica gestacional
Laqueadura tubárea sem cirurgia
Pesquisa de alterações na ultrassonografia pélvica, exemplo:
Espessamento endometrial
Suspeita de malformação uterina
Suspeita de pólipos, miomas submucosos, líquido endometrial, cistos ou vesículas endometriais
Deve ser realizado após curetagem por aborto, para prevenir e, até mesmo retirar eventuais sinéquias
Auxilio nos quadros de restos ovulares persistentes

A histeroscopia é mais precisa que a ultrassonografia e os demais exames de imagem porque ela tem a visão direta do interior do útero e do colo. Deste modo ela vê detalhes que os exames de imagem podem não ver.


Por isso é comum indicarmos a histeroscopia quando a paciente tem uma queixa, mesmo que a ultrassonografia seja normal. 

Este exame tem cerca de 5 minutos de duração. A maioria é feita sem anestesia, em consultório. É difícil prever quem vai sentir dor, se a dor será suportável ou não. O fato é que a maioria das mulheres faz o exame sem anestesia e algumas se queixam de um pouco de cólica durante o exame ou sentem incômodo no momento em que o aparelho está passando do canal do colo para o interior do útero, devido a uma "portinha" que temos alí, o orifício interno, que pode estar muito fechada (estenosada), totalmente aberta (incompetente, nesse caso não dói nada) ou o que consideramos normal (competente) e o incômodo é passageiro e suportável. Às vezes eu acho que a paciente vai sentir dor e não sente, e às vezes eu penso que não vai sentir e sente. Porém nos casos em que a paciente está realizando o exame e sente dor que impede continuar o exame, é possível agendar para fazer o exame em centro cirúrgico, sobre anestesia. Há também casos em que a paciente prefere já fazer com anestesia no hospital. 


Falando agora das possibilidades cirúrgicas, a histeroscopia também consegue realizar retiradas de pólipos, de miomas, retirar o endométrio ou parte dele (no tratamento de menstruações intensas, sangramentos uterinos por disfunção ovariana), corrigir septos intra-uterinos, etc. A técnica é parecida com a histeroscopia exame, mas o aparelho introduzido na cavidade uterina tem calibre maior e por dentro dele passa uma alça que, através de energia, corta e cauteriza o problema a ser tratado. É impossível um mioma com mais de 1cm sair inteiro pelo colo, por isso, essa alça vai fatiando o mioma em pedacinhos menores e os retirando de lá, ao mesmo tempo que cauteriza os vasos para parar o sangramento provocado pelo corte. 


Este tipo de cirurgia é considerada minimamente invasiva, não apresenta cicatrizes, não leva ponto, a pessoa permanece internada apenas por algumas horas e em até 1 semana retorna às suas atividades normais. Eu falei um pouco dela no post sobre Miomas, pois os miomas submucosos, mesmo com componentes intramurais podem ser retirados através desta técnica.


Como qualquer procedimento cirúrgico, este também pode ter riscos de complicações. Mas devido ao avanço dos materiais utilizados, à experiência do cirurgião, habilidade e respeito aos seus limites, as complicações são bastante, bastante, bastante raras. Pode haver perfuração uterina com ou sem lesão de órgãos vizinhos, infecções, hemorragias, complicações anestésicas e um evento especial chamado Intravazamento (quando a solução usada para distender a cavidade passa para dentro dos vasos sanguíneos em quantidade suficiente para provocar alterações cardíacas, pulmonares ou cerebrais). Mesmo passível de complicações, a cirurgia histeroscópica é mais segura e vantajosa que cirurgias maiores.

interior do útero visto pela histeroscopia. 

cirurgia para retirada de pólipo
após a ressecção do pólipo



alça que realiza a cirurgia




ressectoscópio, usado em cirurgias











terça-feira, 26 de julho de 2011

O que é endometriose?

Você já ouviu falar em endometriose?
Essa doença ginecológica acomete cerca de 15% das mulheres, mas nos casos de infertilidade ou dor pélvica, pode estar presente em até 70%. Muitas vezes o diagnóstico é difícil e pode levar anos para acontecer. Muitas mulheres tem endometriose e não sabem.




O endométrio é o tecido que reveste o interior do útero. É ele que se descama num determinado momento do ciclo menstrual e sangra (menstruação). É nele que o embrião se prende para se desenvolver após a fecundação.

A Endometriose ocorre quando células do endométrio se instalam em outros lugares que não o interior do útero. Pode haver tecido endometriótico nos ovários, trompas, no tecido que reveste o útero por fora (peritônio), nos ligamentos pélvicos, na bexiga, intestino, e em qualquer parte do abdome, inclusive em órgãos distantes como a pele, pulmões, olhos, etc, estes são mais raros (ainda bem, né?).

Existem muitas teorias para explicar como a endometriose acontece. O avanço da medicina já nos permite uma abordagem melhor da doença, mas ainda tem muita coisa que precisamos descobrir. Para vocês entenderem melhor, vou explicar a teoria mais compreensiva: a menstruação retrógrada. Todo mês quando a mulher menstrua, parte do sangue que se forma no interior do útero (fruto da descamação do endométrio) sai pela vagina e uma pequena parte vai para o abdome, passando por dentro das trompas. Na ausência de uma defesa imunológica adequada estas células endometriais podem se desenvolver nos locais onde se implanta formando nódulos pequenininhos ou maiores, aderências (quando os órgãos se grudam uns aos outros), obstrução de trompas...e isso vai acontecendo aos pouquinhos desde a época em que menstruamos pela primeira vez. Esse processo é lento, pode ser silencioso ou apresentar sintomas leves ou intensos e é progressivo, se não fizermos nada para interromper sua evolução. Entenderam? é como um vulcão que entra em erupção todo os meses, por onde passam as lavras elas podem ir se acumulando e formando pequenos focos, nódulos, obstrução das trompas, etc. Todo mês deposita um pouquinho até a instalação de endometriose. Mas lembrem-se! isso não acontece com todo mundo. Uma série de fatores imunológicos, genéticos, ambientais, estão envolvidos.
aderências e focos de endometriose
A importância desta doença está no fato de poder atingir todos os setores da vida de uma mulher. Ela pode prejudicar a qualidade de vida e até provocar infertilidade, ter problemas no trabalho, na vida social e conjugal. É claro que nem todo mundo tem os mesmos sintomas, pois isto depende do grau da doença. Muitas mulheres tem endometriose e nunca foram inférteis, outras não sofrem com cólicas. Porém, os sintomas mais comuns são de dor pélvica (cólica menstrual, dor na relação sexual, dor na região inferior do abdome fora do período menstrual, dor para evacuar), menstruação intensa, sangramentos fora do período menstrual e infertilidade. A endometriose é uma doença crônica que deve ser tratada permanentemente. Sem tratamento os sintomas vão se tornando cada vez mais intensos.

Exceto quando a endometriose é diagnosticada por acaso (pacientes  sem diagnóstico prévio e que são submetidas a uma cirurgia pélvica qualquer, como a cesariana, ou durante um exame de imagem de rotina), nós desconfiamos de endometriose quando a paciente apresenta cólicas intensas que estão piorando ao longo do tempo, e que não melhoram facilmente com medicações apropriadas e que, às vezes, precisam ir até uma emergência tomar injeção para a dor melhorar. Não é aquela cólica que a pessoa nem toma remédio para passar ou que melhora com analgésicos como "buscopan, tylenol, novalgina, atroveran". É a cólica que te deixa em casa no dia que você mais queria ir naquela festa maravilhosa ou que faz você faltar o trabalho. Cólica que não melhora com anti-inflamatórios (medicações adequadas para aliviar as cólicas). Também quando a paciente está há mais de 1 ano tentando engravidar e não consegue, investigamos endometriose.

O exame clínico da pelve, a ultrassonografia transvaginal, a ressonância magnética de pelve e a dosagem de  CA 125 (detectado no sangue) podem fazer o diagnóstico em alguns casos, mas em outros, podem estar normais e mesmo assim a pessoa ter endometriose. O diagnóstico definitivo acaba sendo através de uma cirurgia chamada Video-Laparoscopia, que identifica os focos sob visão direta. Mesmo assim, alguns casos de endometriose retroperitoneal podem passar desapercebidos na cirurgia, dependendo da experiência do cirurgião ou pela falta de suspeita clínica prévia. A video-Laparoscopia, além de fechar o diagnóstico também auxilia no seu tratamento, retirando os focos, nódulos e liberando aderências.
Video-Laparoscopia

O tratamento da endometriose pode ser através de medicamentos hormonais e cirurgia. Não há cura, portanto, o tratamento é individualizado. Escolher qual o tratamento clínico dentro das opções existentes e qual a estratégia cirúrgica a ser adotada, depende do objetivo para cada paciente.

Já entendemos que a endometriose vai se instalando devido às menstruações, certo? assim fica fácil entender que não menstruar seria o ideal para quem tem endometriose. Podemos não menstruar devido ao uso de anticoncepcional sem pausa, ao uso de outros medicamentos hormonais mais potentes que são usados temporariamente (pré ou pós cirúrgico) ou através de cirurgia.

Com a dificuldade do diagnóstico, é comum iniciarmos anticoncepcional sem pausa nas pacientes em que suspeitamos de endometriose e que não pretendem engravidar logo. Ela vai usando enquanto estiver dando certo, até resolver engravidar ou até quando houver necessidade de cirurgia. Protegida da progressão da doença ela pode ter evitado a infertilidade. A cirurgia fica reservada para os casos de dor pélvica que persistem com o tratamento medicamentoso, ou quando o exame clínico ou de imagem consegue fazer o diagnóstico, ou quando há infertilidade. A cirurgia pode ser conservadora (para quem pretende engravidar) ou para a retirada do útero e ovários. Tudo depende da idade, do futuro fértil, das manifestações clínicas, e deve ser conversado com a paciente, individualizando os casos.

Há mulheres com endometriose que ficam bem só usando anticoncepcional contínuo, algumas que precisam de hormônios específicos e de laparoscopia, outras só engravidam com fertilização in vitro, outras precisam fazer a cirurgia de retirada do útero e ovários e há aquelas que engravidam espontaneamente, que não sofrem com os sintomas e que não desenvolvem infertilidade. Continuando, dependendo da gravidade, há situações em que a mulher necessita de acompanhamento psicológico, psiquiátrico, e da clínica da dor. Algumas cirurgias necessitam da participação de cirurgiões gerais especializados em endometriose, proctologistas ou urologistas.

O fato é que endometriose é uma doença muito complexa e não podemos mais perder o momento de iniciar o tratamento. Não dá mais para recebermos pacientes com cólicas progressivas e incapacitantes que começaram no início da vida menstrual sem tratamento até hoje, aos 20-30 anos.

Por isso, se você sofre de cólicas intensas, que não melhoram facilmente com medicação, que estão piorando, não deixe o tempo passar, procure seu ginecologista para iniciar logo o tratamento. A endometriose começa na adolescência, quando começamos a menstruar e não tem cura. Quanto mais cedo você iniciar o tratamento, você pode conseguir impedir a evolução da doença e proteger a sua fertilidade, além de garantir qualidade de vida.

Abaixo selecionei 3 diferentes imagens de endometriose do meu arquivo pessoal.

foco de endometriose peritoneal

endometrioma de ovário / líquido achocolatado


implantes endometrióticos em parede posterior do útero

Para divulgar: acesse o portal da endometriose (endereço lá na lista de sites de saúde). Lá você encontra perguntas e respostas, vê onde se localizam os serviços públicos de referência em todo o país e, se seu médico lhe prescreveu uso de análogos (tratamento hormonal) você também fica sabendo como fazer para conseguir as medicações pelo SUS.

Bom, já havia prometido este post há um tempo. Endometriose envolve muitos detalhes. Tentei simplificar e esclarecer pra vocês as principais dúvidas.
Um beijo!





sexta-feira, 22 de julho de 2011

Hipertensão na gestação

A complicação mais comum e mais temida na gestação é a Pré-eclâmpsia, ou seja, a pressão alta que se inicia depois de 20 semanas de gestação + presença de proteínas na urina >300mg, detectado através da coleta de urina durante 24 horas. Na ausência de proteinúria também se considera pré-eclâmpsia a hipertensão com cefaléia, borramento da visão e dor abdominal ou por valores anormais em testes laboratoriais (baixa contagem de plaquetas e aumento de enzimas hepáticas).

Hipertensão arterial: pressão sistólica > ou = a 140 e diastólica > ou = 90mmHg

A pré-eclâmpsia é a principal causa de morte materna e fetal.

É importante diferenciar os tipos de pressão alta na gestação, pois a evolução de cada uma tem características diferentes. Se a mulher já estava hipertensa antes da gestação ou a pressão alta surgiu antes de 20 semanas, ela tem Hipertensão crônica. Se surge depois de 20 semanas, mas sem proteinúria e depois do fim da gestação os níveis pressóricos voltam ao normal ela teve uma Hipertensão transitória. Se a hipertensão surge depois de 20 semanas com alterações nos exames laboratoriais, é Pré-eclâmpsia.
Na maioria dos casos se diagnostica a hipertensão gestacional durante as consultas de rotina no pré-natal,sem que a mulher apresente algum sintoma. Por isso que é importante verificar a pressão em TODAS as consultas de rotina na gestação. Independe de comer sal em excesso, de ter parentes com pressão alta, de nunca ter tido pressão alta antes, de ter sempre pressão baixa... a causa da pré-eclâmpsia é desconhecida.


"acredita-se haver uma combinação de fatores genéticos, ambientais e imunológicos que determinam o defeito na invasão trofoblástica das  arteríolas espiraladas, causando redução na pressão de perfusão uteroplacentária , com consequente isquemia /hipóxia da placenta no decorrer da gestação. A isquemia libera citocinas pró-inflamatórias, que iniciam cascata de eventos celulares e moleculares, determinando a disfunção endotelial dos vasos, com aumento da resistência vascular". 
Não entendeu nada??? tô aqui para dar uma ajudinha: isso tudo quer dizer que o problema está na placenta, por isso, o término da gestação é o tratamento definitivo para a pré-eclâmpsia.

O desfecho ruim da doença é a evolução para a Eclâmpsia (quando além da pressão alta e alterações laboratoriais a gestante apresenta as convulsões ou coma, e evolução para a síndrome HELLP (hemólise, plaquetopenia e disfunção hepática).

Como prevenir a pré-eclâmpsia?
Na verdade, não há nada comprovado que se possa fazer para evitar a pré-eclâmpsia, mas uma boa assistência pré-natal pode evitar a evolução para eclâmpsia e síndrome HELLP, salvo alguns casos mais raros de evolução súbita. O uso de cálcio e aspirina talvez evite naquelas gestantes que já tiveram pré-eclâmpsia grave anteriormente.
É claro que fazer atividade física, ter uma dieta balanceada, ou seja, ter uma vida saudável pode dificultar a instalação de qualquer complicação na gestação, mas mesmo com tudo isso a gestante pode desenvolver pré-eclâmpsia.

O tratamento depende do grau de pré-eclâmpsia (leve, moderada e grave) e na repercussão clínica para a mãe e o feto. Vai desde a conduta expectante até a interrupção da gestação.

Como verificar a pressão corretamente?
A pessoa deve estar sentada, em ambiente tranquilo, relaxada na cadeira, com braço repousado sobre uma superfície (mesa, por exemplo) na mesma altura do coração.
Não se deve verificar a pressão nas seguintes condições: assim que chega no lugar sem ter feito um repouso de 10 minutos pelo menos, em pé, jogando o corpo sobre o braço, sustentando o peso do próprio braço, falando, se mexendo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Sexualidade no pós-parto

O período pós-parto reúne muitos acontecimentos ao mesmo tempo. A família cresce, adotamos uma nova rotina, passamos por transformações no nosso corpo e temos que nos adaptar a tudo isso de maneira imposta e rápida. Algumas mulheres se resumem a "dois peitos" no período do puerpério (fase pós parto). A vida gira em volta deles, sua atenção fica voltada para a amamentação. Manicure, hidratação no cabelo, massagens, fitness, shopping, descanso, só quando o bebê deixa, e olhe lá. Nem todo mundo tem uma babá de confiança ou um parente (a nossa mãe) para ajudar. A gente fica de licença no trabalho para a dedicação exclusiva ao bebê, mas o pai só tem direito a 5 dias, logo, não consegue participar tanto quanto gostaria ou deveria (acho que alguns até se beneficiam disso, pois tem pai que gosta de estar presente, chega junto, mas outros...). Eu escuto muitas reclamações de pacientes decepcionadas com o marido já desde a gravidez, piorando no puerpério. As reclamações vão desde falta de parceria até as questões sexuais.
Durante a gestação a natureza favorece a libido, mas depois, não. E isso pode gerar uma crise no relacionamento porque alguns homens não entendem e acham que a mulher perdeu o interesse neles, ou que está gostando de outra pessoa, ou tem ciúmes do bebê ou o pior, eles, às vezes, perdem o interesse na mulher.
Bom, esse afastamento sexual pode mesmo acontecer dos dois lados. Na mulher, os hormônios envolvidos na amamentação (prolactina) e também a progesterona diminuem mesmo o apetite sexual, pode haver ressecamento vaginal e aumento da sensibilidade genital aumentando a fragilização da mucosa. Além disso, há um conflito com a nova fase de vida, tudo novo, mesmo que não seja a primeira gravidez. Tem o medo de doer devido à cicatriz de cesárea ou episiotomia no parto normal, o sangramento pós parto que pode durar mais que o esperado e toda a questão psicológica e social envolvida como os sentimentos de medo, coragem, alegria, frustração.
Como disse, às vezes o homem perde o interesse momentâneo por se sentir inibido pela amamentação, em ter que dividir o seio materno, um órgão também sexual com o o bebê. Sem esquecer da fantasia de "mãe do meu filho", intocável, pura, santa.
É importante haver muita conversa entre o casal buscando apoio do outro, e saber que isso é transitório e fisiológico e comunicar ao médico para que ele lhe prescreva cremes vaginais a base de estrogênio que não passam para a corrente sanguínea, mas devolvem a lubrificação vaginal, tratando o ressecamento. Uma saída para o medo do retorno à atividade sexual é reiniciar com delicadeza, pela fragilidade da genitália, usar outras formas de prazer como a masturbação entre o casal até que se estabeleça confiança para a penetração vaginal.
O período para retorno à vida sexual? quando terminar o retorno do útero ao seu tamanho original, que pode durar 30-40 dias, período conhecido como resguardo.

O bom diálogo entre o casal, a informação a respeito dos acontecimentos no período pós parto e o uso de método contraceptivo adequado para esta fase são fundamentais para a saúde do casal.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pílula nova no mercado!

Pra começar peço desculpas pela demora em escrever aqui no "Toque". Nem conto como foi a minha semana... um dos motivos de tanta correria é que, além de toda a agenda mega lotada ainda tive que encontrar espaço para apresentar palestras para médicos, utilizando um horário que não estava livre! Não pensem que dou conta sempre impecavelmente. Às vezes, eu quase surto. Então eu "respiro no saquinho" e consigo sobreviver. As pessoas que convivem comigo sentem quando o bicho está pegando: cara de cansada, cabelo desarrumado (porque apesar de bonzinho meu cabelo também fica esquisito quando não ligo pra ele), não rola nem um rimelzinho ou blush, batom, então, rss. Não troco de bolsa, nem de brinco. Pronto, diagnóstico fechado! mas como eu estava dizendo, falando das palestras, são sobre um novo anticoncepcional lançado esse ano e resolvi escrever sobre o tema.

A pílula anticoncepcional completou 50 anos em 2010. Durante todos estes anos o uso de anticoncepcionais vem crescendo no mundo todo e passando por mudanças, sempre com a intensão de garantir eficácia contraceptiva, mas com mínimo efeito colateral e, ainda, com benefícios além da contracepção. Quando foi lançada tinha o objetivo de ser usada no tratamento do sangramento uterino anormal, para controlar o ciclo menstrual, porém sua principal contra-indicação era para mulheres que desejavam ter filhos. Então, milhares de mulheres que queriam evitar uma gravidez indesejada passaram a usar anticoncepcionais. Esse efeito não vinha escrito na bula por questões religiosas e políticas.  Nos primeiros anos, milhares de mulheres morreram de trombose. As pesquisas aumentaram, a medicina foi evoluindo até desenvolverem novos compostos hormonais com menor risco, sem perder a eficácia. E até hoje os avanços não param.

Em todos estes anos houve diminuição da dose do estrogênio: (há pílulas com 35 mcg, 20 mcg e 15 mcg de etinil estradiol. As pílulas com 35 ou 20 mcg são as consideradas de baixa dose. As pílulas com 15 mcg são as de ultra baixa dose; Novas progesteronas em sua composição: (levonorgestrel, desogestrel, gestodeno, clormadinona, ciproterona, drospirenona. cada uma com características individuais para se adequar a cada perfil de mulher); Diferentes vias de administração: (injetável, anel vaginal, adesivo, implante e sistema intra-uterino -estes utilizam outro estrogênio e progestogênio, diferentes das pílulas); Diversas maneiras de tomar: (21, 22, 24 e 28 comprimidos e intervalos diferentes entre as cartelas, além de cartelas com a mesma dose de hormônios em todos os comprimidos ou com doses diferentes); composições hormonais que oferecem benefício além da contracepção (como pílulas para tratar TPM, síndromes androgênicas, etc).

Agora lançaram uma pílula que utiliza o estrogênio natural em sua composição, idêntico ao estrogênio produzido nos ovários, o Valerato de Estradiol, diferente do etinil estradiol, um estrogênio sintético até então era o único utilizado em todas as pílulas nos últimos anos.

O uso de um estrogênio natural tem a intenção de trazer mais benefícios às usuárias de anticoncepcional. Alguns estudos mostram que o estrogênio natural tem um impacto menor no fígado, assim como em todo o nosso organismo. Esse novo anticoncepcional está no mercado brasileiro desde janeiro deste ano, mas já é utilizado na Europa e EUA há mais tempo. Desde seu lançamento há muitos trabalhos sendo realizados para avaliar o comportamento desta pílula na prática, e o que se espera do futuro é que algumas contra-indicações  possam mudar, ampliando as possibilidades da indicação do anticoncepcional. Esse lançamento é um novo conceito em contracepção. Eu sempre esperei chegar ao mercado uma pilula com estrogênio natural. Acho que a tendência, a partir de agora, é que esse hormônio faça parte das futuras composições com outros progestágenos que ainda não são utilizados. Pois o Valerato de estradiol foi testado com todas os progestogênios conhecidos, mas somente um chamado Dienogest conseguiu completar a composição desta pílula. Fiquei feliz com seu lançamento e com os resultados que estou vendo nas pacientes que já estão em uso. Muito bom!

Coisinhas que muita gente não sabe: lá fora existe um anticoncepcional que se chama Beyaz (é o Yaz, conhecido aqui, com um similar de ácido fólico e cálcio). O ácido fólico deve ser usado para quem está querendo engravidar para evitar problemas neurológicos no embrião. O ideal é iniciar seu uso assim que a mulher interrompe o método contraceptivo, porém observamos que acontece gestação quando o remédio é usado de forma errada, quando se esquece de tomar a pílula. Foi pensando nessas mulheres que acrescentaram o ácido fólico ao contraceptivo. Em caso de gestação inesperada, pelo menos a mulher já estava em uso desta vitamina.
Lá fora há diversos anticoncepcionais que não são comercializados aqui, inclusive algumas pílulas conhecidas no brasil, com a diferença de mais comprimidos na cartela, como é o caso do Yasmin 28, por exemplo.
O progestogênio utilizado nesta nova pílula com estrogênio natural já é utilizado na europa há anos, no tratamento da endometriose. Você encontra como Visanne ou Tinelle (em versão espanhola).
Não contem pra ninguém, mas eu adoro embalagens e será lançado um anticoncepcional cuja embalagem é uma caneta que você vai apertando na ponta e ela libera a pílula do dia. Tem todo um mecanismo para ser prática e não deixar você tomar o comprimido errado e não se esquecer de tomar no dia certo.

Estou pensando em escrever um post com uma lista de anticoncepcionais brasileiros e suas versões estrangeiras... o que acham?

sábado, 9 de julho de 2011

Herpes Genital

Essa semana atendi várias pacientes com Herpes genital, então, resolvi escrever sobre o assunto.

A infecção pelo vírus Herpes simplex acontece por via sexual ou pelo canal do parto em gestantes infectadas, porém, algumas vezes a forma de contaminação não é definida. Nós podemos contrair herpes no contato com alguém com as lesões e sem lesões. É isso mesmo, mesmo numa relação com quem não sente nada, assintomatico, podemos receber o vírus.
Você deve conhecer o Herpes labial. Este é provocado pelo herpes simples virus 1. O herpes genital é causado pelo herpes simples virus 2, mas nada impede que você tenha o HSV 1 na genitalia por auto inoculação, ou seja, você levou o virús ao tocar na boca e depois na genitália, por exemplo.
Como é comum nas infecções virais, elas costumam se manifestar quando ocorre queda da nossa imunidade (defesa do organismo). O vírus pode ficar latente (dormindo) e quando tem a oportunidade ele causa a infecção. Tem gente que tem 1 infecção na vida, mas tem gente que tem várias.

O quadro clínico dura, em média, uma semana. A primeira infecção é mais intensa que as subsequentes. Pode haver dor no local, vermelhidão, coceira, ardência. Então surgem as vesículas grudadinhas umas nas outras (pequenas bolhas) que se ulceram (se rompem) e podem formar uma casquinha. O diagnóstico é principalmente clínico. Algumas vezes é necessário colher material das lesões para exame.

O tratamento é feito com anti-virais na forma de comprimidos e/ou cremes. A manifestação do herpes na gestação inspira cuidados e devemos sempre realizar o tratamento o mais cedo possível, com medicamentos orais e tópicos. Os mesmos usados nas não-grávidas. Se a gestante teve herpes 1-2 semanas antes do parto, este deverá acontecer através da cesariana.

O uso do preservativo pode evitar a infecção herpética. Manter a imunidade sempre alta pode evitar a recorrência.

herpes: vesículas

herpes: após ruptura das vesículas

herpes labial




sexta-feira, 8 de julho de 2011

Cistite não é sintoma. É um tipo de infecção urinária.

e lá vai.... um post sobre infecção urinária!

Para vocês que vivem reclamando que homem é que se dá bem, mulher sofre, tudo é pior com a gente, a gente tem tudo, etc. A gente menstrua, tem que fazer depilação, se embelezar, ficar magra, fazer preventivo, sofre com inflamação vaginal, com as alterações do corpo na gravidez, com a menopausa, com celulite... nós já deveríamos estar acostumadas e aceitar isso, afinal, mesmo que isso cause indignação, nada vai mudar. Atendi a pedidos e escrevo sobre Infecção do trato Urinário (ITU). Você deve ter dado aquele sorriso sarcástico e vingativo (ahhh isso o homem também tem!), mas tenho que dizer que essa felicidade durou pouco, pois ITU é muuuiitooo mais prevalente nas mulheres que nos homens. 

Cerca de 30% das mulheres têm infecção urinária pelo menos uma vez na vida. A Infecção urinária pode ser uma cistite, quando está localizada na bexiga, ou pielonefrite, quando a infecção alcançou os rins e uretrite, na uretra, mais relacionada às DSTs. A infecção do trato urinário (ITU) é muito mais comum na mulher que no homem. Mulher com ITU é comum, mas homem com ITU deve investigar o que há de errado (nos jovens é pode ser por DST, por exemplo, já nos idosos, por problemas na próstata). A anatomia da mulher favorece ITU. Temos a uretra curta (canal que leva a urina da bexiga até o meio externo) e ela termina na região perineal que tem mais 2 vizinhos: a entrada da vagina e o ânus. Esses dois possuem bactérias. Facilmente bactérias do ânus vão para a vagina e as do ânus e vagina vão para uretra e chegam na bexiga causando ITU. Já o homem não tem vagina e a uretra é longa, o que não facilita a ITU. Então a primeira culpa desta infecção, na mulher, é da anatomia. Na gestação a chance de ter ITU aumenta, pois além do que eu falei, nessa fase a imunidade (defesa do nosso organismo) está mais baixa (facilitando infecções) e a anatomia interna está alterada. O útero crescido altera a anatomia original da bexiga, dos rins e dos ureteres (canais que levam urina dos rins até à bexiga).

Compare a anatomia da mulher e do homem:


uretra longa

uretra curta

Outras causas como cálculos renais e problemas relacionados à alteração no funcionamento do trato urinário também são causas de ITU. Uso de sonda vesical (na bexiga), procedimentos cirúrgicos nesta região, também. Ah! existe a infecção da lua de mel, ou seja relacionada à vida sexual. É que o atrito do pênis no períneo com bactérias pode ajudar a levar esses microorganismos para dentro da bexiga. Além disso, a prática do sexo anal deve sempre finalizar a relação para não contaminar a vagina e uretra. 

A Cistite pode surgir com muitos ou poucos sintomas. São eles: ardência ao urinar (disúria); vontade de urinar o tempo todo , mas em pouca quantidade (polaciúria); vontade de urinar, mas quando a urina vai sair, não sai (estrangúria); dor ao urinar; dificuldade de segurar a urina, sangramento na urina (hematúria), urgência para urinar. Ao contrário do que se pensa, odor na urina e cor mais forte, na maioria das vezes, quer dizer que ela está mais concentrada, e não que há ITU. Gestante com cólicas que não melhoram com medicamentos podem estar com ITU, mesmo sem ter nenhum dos sintomas citados. 
Quando a infecção é mais grave e chega aos rins desenvolve a Pielonefrite, com sintomas mais intensos como febre, queda do estado geral, vômitos, dor lombar. Em algumas pessoas este quadro justifica a internação, como nas gestantes, por exemplo.

O diagnóstico se dá pelo exame de urina. Na emergência é feito o EAS. Para descobrir qual é a bactéria que está provocando a infecção fazemos a cultura de urina, em nível ambulatorial, que leva alguns dias para dar resultado. Algumas vezes prescrevemos medicamentos empiricamente, ou seja, baseado no relato dos sintomas, sem exame comprovando. Mesmo quando o exame simples de urina está normal, mas a pessoa tem os sintomas nós iniciamos o tratamento. Portanto, é aceitável o tratamento sem exame de urgência. Porém, nos casos de cistite de repetição é necessário realizar a cultura para saber se houve infecção pela mesma bactéria ou por outra. 
As bactérias mais comuns são: Escherichia coli., Proteus spp, Streptococcus ssp, Klebsiella spp, Staphylococcus spp (que está presente na nossa pele).
É aceitável que a mulher tenha três infecções por ano. Acima disso ela pode ter cistite de repetição. Há mulheres com predisposição para isso, mas outras mulheres nunca tiveram nenhum episódio. Cistite de repetição deve ser investigada. 

O tratamento deve ser feito com antibióticos, mesmo na gestação. A infecção urinária é uma grande causa de parto prematuro, ameaça de aborto, sepse (infecção generalizada) e óbito fetal, na gestação. É por isso que toda gestante faz exame de urina (o EAS, simples e a urinocultura) mais de uma vez no pré-Natal, mesmo sem estar sentindo nada. E tem que tratar, sempre!!! e Nunca fazer automedicação, pois resistência bacteriana é uma coisa que existe mesmo! Uma coisa que é legal e é recomendado, é o uso de anti-inflamatório junto com o antibiótico. Eles ajudam o antibiótico aliviando os sintomas .

Como evitar? mantendo a imunidade boa, evitando prender a urina, bebendo água suficiente (8 copos por dia), evitando a contaminação pelas bactérias (principalmente do ânus) se lavando ao urinar ou evacuar (só papel higiênico não é suficiente!) e usando lencinho umedecido íntimo como auxílio na higiene perineal, urinando ao término das relações sexuais. Mulheres no período pós-menopausa  devem usar cremes vaginais à base de estrogênio para manter a mucosa vaginal íntegra e evitar infecções, além de tratar a incontinência urinária (caso exista) porque este problema também facilita o surgimento de ITU.

Espero ter esclarecido as dúvidas sobre ITU. Mas sintam-se à vontade para perguntas! 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Planeje sua gestação! (gestação de 12 meses)

O ginecologista tem alguns sonhos como esperar que as mulheres estejam sempre em dia com seu exame preventivo, com a mamografia (em idade pertinente), que a paciente saiba a data da última menstruação quando vai à consulta, que ela siga as orientações dadas por ele e não pelo jornaleiro, que não use protetor diário de calcinha, que se previna de DSTs e, além de alguns outros sonhos, que planeje sua gestação.

Planejar a gravidez é importante para realizar o rastreio de fatores de risco à gestação, identificar e tratar problemas preexistentes e se preparar com vacinas, nutrição, exercícios e suplementos vitamínicos.

Na consulta...
É importante saber sobre os hábitos de vida do casal, profissão (a fim de identificar atividade de risco), dieta, uso de medicamentos, uso de drogas ilícitas, história de doenças genéticas na família, tabagismo, pesquisa de doenças infecciosas como a infecção pelo HIV, Clamídia, Sífilis, Rubéola, Hepatite B e C.

Se prepare para engravidar! 
Quanto à nutrição, é recomendado dieta e exercícios para perda de peso se a paciente tiver um IMC acima de 26 Kg/m². Por outro lado, pacientes com IMC abaixo de 19 Kg/m² devem tratar distúrbios alimentares. A obesidade pode causar infertilidade, abortamento, hipertensão, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, doença tromboembólica, hemorragia pós parto e dificuldades no parto. Mulheres com baixo peso estão expostas à osteoporose, infertilidade, alterações cardíacas, parto prematuro e fetos com baixo peso ao nascer. OBS: calcule seu IMC: divida o seu peso pela sua altura ao quadrado ou utilize uma das calculadoras do google.

Por que as pessoas só preocupam com vacinas quando crianças ou na gestação?
Ao investigar a história imunológica, se a mulher ainda não tiver recebido a vacina contra Rubéola e Varicela (catapora), deve se vacinar ainda antes de engravidar. Apesar da vacina contra hepatite B poder ser administrada na gestação, por que esperar engravidar para vacinar? O mesmo vale para a anti-tetânica. Para saber se você já é imunizada contra Rubéola, Hepatite B, Citomegalovírus e Toxoplasmose (infecções que podem trazer danos para o feto) basta fazer exame de sangue específico que já pode ser realizado antes mesmo de engravidar. (veja o post sobre vacinação na mulher)

Não pare de praticar exercícios! Está sedentária? estão vamos sacudir logo este esqueleto!
Quanto aos exercícios, só aconselho não praticar atividades de risco de trauma abdominal e alto impacto no período em que você está tentando engravidar.

Ácido fólico, um detalhe muito importante!
Suplementos vitamínicos. Muitas pacientes minhas já ouviram a frase: "olha, quando você quiser engravidar, pare o anticoncepcional e inicie o ácido fólico! Não deixe de vir à consulta!" Então, o ácido fólico é uma vitamina que evita defeitos do tubo neural no embriãozinho que está se formando num momento que, na maioria das vezes, você nem sabe que já está grávida. Por isso é importante iniciar logo que começa a tentar engravidar, e não essa história de iniciar 3 meses antes. Ele não faz efeito acumulativo. A recomendação de iniciar logo é para não perder a oportunidade de estar em uso quando nem se diagnosticou a gestação ainda.Tubo neural é uma estrutura que dará origem ao cérebro e medula espinhal. O defeito no seu fechamento, que deve ocorrer entre a terceira e quinta semana de gestação, podem levar à anencefalia (ausência de cérebro), meningocele e mielomeningocele (espinha bífida). Entendeu?

Cigarro? álcool? drogas?
Nem precisa falar que as mulheres que fumam, usam drogas ilícitas e álcool devem abandonar esta prática desde esse período até enquanto estiver amamentando, né? O tabagismo pode levar à infertilidade, descolamento prematuro de placenta (uma emergência obstétrica, muitas vezes fatal para o feto), placenta prévia, prematuridade, crescimento fetal restrito... O excesso de álcool pode causar restrição do crescimento fetal e anormalidades no sistema nervoso central. A cocaína está associada ao descolamento prematuro de placenta, morte neonatal, parto prematuro, baixo peso fetal, sangramentos, abortos, etc.

Algumas doenças crônicas
Mulheres com Diabetes, Lúpus, Hipertensão, com passado de trombofilias, passado de partos prematuros merecem especial atenção. Devem ser "preparadas" para a gestação e estar cientes dos riscos de acordo com cada caso. Não posso me esquecer de comentar que é importante estar em dia com o preventivo de colo de útero, pois nos casos com lesões pelo HPV, o ideal é tratar antes de engravidar. Alguns casos de Lúpus contra-indicam a gravidez.

Beleza, a casa está pronta para receber mais um membro da família? Então vamos povoar o mundo!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Consulta íntima

Uma questão muito íntima tem tomado conta das consultas ginecológicas. A falta de libido, ou seja, de apetite sexual.

É um assunto bem delicado porque envolve questões físicas e psicológicas e às vezes o problema está em casa e a pessoa não consegue ver. É bem verdade que alguns medicamentos podem reduzir o apetite sexual, assim como os anticoncepcionais, ansiolíticos, anti-depressivos, anti-hipertensivos, mas esse efeito colateral não acontece com todo mundo. A idade na pós menopausa também constitui fator causador de diminuição de libido porque os ovários não produzem mais os hormônios como antes. Quem não utiliza anticoncepcionais pode perceber queda na libido no período pré-menstrual, e isso é fisiológico, ou seja, normal. Já quando vem a menstruação a libido volta a subir até o período da ovulação (a natureza é incrivelmente inteligente). Muitas vezes a queda de libido está relacionada a uma inflamação vaginal ou pélvica, por exemplo, pois se a mulher sente dor durante a relação sexual, ela vai ligar a dor ao ato sexual e não vai ter vontade de ter relação. Também o período pós parto pode ser responsável pela falta de libido, não só por questões hormonais, mas também pela adaptação de uma nova rotina com o bebê. Isso já não acontece na gestação, onde até mesmo a maior lubrificação vaginal facilita a relação sexual.

O problema é quando uma mulher que não utiliza nenhum destes medicamentos, está na idade reprodutiva, menstrua normalmente (todo mês), já foi ao ginecologista que afastou qualquer problema ginecológico e ela se queixa de queda de libido.

Neste caso, a questão é psicológica, social, ou de relacionamento. Mesmo ouvindo mulheres dizendo que amam seus parceiros, mas não tem desejo, penso que você pode amar seu parceiro, mas estar insatisfeita com alguma coisa no relacionamento ou com a sua própria vida. Desestimulada, cansada, entediada...com problemas no trabalho ou com a família, a mulher fantasia muita coisa, espera atitudes do parceiro que, às vezes, não corresponde. O homem não transfere para a cama uma decepção com a mulher. Já a mulher perde a vontade se ficou chateada com ele por qualquer motivo. Alguma coisa que ele fez de errado ou que ele não tenha feito de certo. Muitas vezes os homens se acomodam e tornam o relacionamento rotineiro, sem novidades. Páram de investir nas preliminares, não pensam tanto no nosso prazer. A mulher também pode ter culpa nisso, claro. E aí, a libido vai embora. Mesmo que o amor continue. O homem transa porque gosta ou porque é instinto. A mulher transa se está feliz com ele naquele momento.

Acho que a conversa entre o casal é fundamental. Tem que haver intimidade. Intimidade falada. Tem que haver reflexão. O que está acontecendo? você deixa de ter vontade de ter relação com ele mas deseja outra pessoa, mesmo que platonicamente? (até mesmo vendo uma revista ou um filme). Você não quer transar com ele, mas se masturba? Se a resposta for sim para qualquer uma destas duas perguntas, o problema está no relacionamento.

Agora, você considera seu parceiro perfeito, carinhoso, dedicado e mesmo assim não entende porque não tem vontade de transar. Desde que você não se enquadre naquelas causas de queda de libido expostas lá em cima, quem sabe você não pode fazer algo para despertar em você mesma o apetite sexual. Experimentar novas posições, lugares, lingerie, acessórios, dança, um curso de pompoarismo, por exemplo? Sei que pensar nisso sem estar com vontade é difícil, mas talvez seja difícil numa primeira vez. Vai que você faz uma surpresinha para ele e ele te leva à loucura? esse pontapé inicial vai tornando a relação cada vez melhor. E da segunda ou terceira vez em diante você já vai passar a inventar essas coisinhas para sair da rotina porque está com vontade e não para fazer você ficar com vontade!

É importante lembrar que muitas vezes a vontade só vem com a sedução do parceiro, nas preliminares, e se você não estiver estimulada o bastante, não haverá lubrificação suficiente e sentirá dor na penetração. Além disso, o orgasmo é diferente para homens e mulheres. O orgasmo feminino acontece muito durante o estímulo clitoriano e não na penetração simples, e o local de maior prazer na mulher é a entrada da vagina, incluindo o clitóris. É ali que ela possui as terminações nervosas e não dentro da vagina. O tocar do pênis no colo do útero também estimula algumas contrações uterinas que dão a sensação de prazer, mas dependendo da posição (as que expõem mais o útero) pode haver um pouco de dor. Mais uma coisa, às vezes é preciso muita paciência ou intimidade entre o casal para a mulher chegar ao orgasmo. Já vi casos em que o parceiro incia as preliminares e parte para a penetração até a ejaculação e termina a transa aí, sem nem ter propiciado à mulher o direito de ter prazer também.

O tratamento depende da causa. Para quem já não menstrua porque teve a menopausa, a terapia hormonal é a opção. Para qualquer idade há tratamentos à base de hormônios e fitoterápicos, além da terapia, inclusive se o problema for o relacionamento.


Já assisti várias palestras sobre queda de libido. Sempre terminam, com uma frase do tipo "se você é jovem e saudável, e está com perda do apetite sexual, mude de parceiro". Acho isso muito radical. Esse conselho deve servir para muitos casais, sim, mas não vamos generalizar. 


Dicas para esquentar o clima: Já ouvi muita gente dizendo que no início do relacionamento era legal devido aquele clima de descoberta, estar se conhecendo... então que tal um revival? Combine de se encontrar com ele ao sair do trabalho, num bar ou boate. Vocês chegam separados. Você o aguarda sentada no bar e finge que não o conhece. Ele chega e se apresenta. Vocês começam um papo como se estivessem se conhecendo naquele momento. Ele a convida para ir para um lugar mais íntimo. Aposto que vai dar certo!

Outra opção é você usar uma peruca diferente do seu cabelo, claro, inventar um nome, uma outra identidade,  e levá-lo para a cama. A intenção é ser várias mulheres numa só. Ele transa com mulheres diferentes, mas todas são você.

Aquelas coisas de mandar mensagens pelo celular durante o dia, prometendo uma noite daquelas também dá muito certo, porque eles ficam super excitados quando lêem algo picante, ainda mais vindo da própria parceira.

Se vocês estão no meio de um evento ou festa, mande um sinal para ele ou um toque no celular o convidando para irem para um lugar mais íntimo.

Outra coisa que não poderia deixar de dizer: nunca apareçam na frente dele de calcinha e sutiã bege. Nunca. E pijama é para dormir sozinha. Sempre.

Não tenha vergonha do seu parceiro se você está acima do peso. Use lingerie bem sexy e manda ver. Se ele deseja você, ele não está ligando para a gordurinha a mais, ou a celulite. Se você já se sente gorda e fica tímida na cama, aí sim, já era.
lingerie GG e sexy, existe!
Deixem seus comentários e dicas também. Sei que é um assunto complexo, mas diariamente recebo várias pacientes se queixando de perda do apetite sexual ou de não ter orgasmo. Também não posso deixar de comentar que alguns casos merecem tratamento com especialistas (ginecologistas sexólogos) ou psicólogos especializados no assunto.








domingo, 3 de julho de 2011

Higeia: sabonete: SIM, lenço umedecido: NÃO




Finalmente eu experimentei o sabonete íntimo e o lenço umedecido da Natura. Eu gostei, ou melhor, estou gostando do sabonete, perfume leve e agradável, com o mesmo efeito dos que eu estou acostumada a usar. Não posso dizer o mesmo do lencinho umedecido. Tudo culpa do perfume. O problema é esse. Nada que você possa aplicar na região íntima pode ter perfume, principalmente forte. Achei o cheiro enjoado. Os outros lenços que já usei não deixam cheiro algum na pele, você pode até sentir um perfuminho lá longe quando abre o pacote ou pega o lenço, mas depois que usou você percebe que o cheiro não ficou em você.

Me perguntaram se os sabonetes podem causar alergia. Podem sim! Se você usar o produto e apresentar coceira, irritação, vermelhidão é porque você desenvolveu uma reação alérgica.

Respondendo a outra pergunta, eu ainda não usei o Dove íntimo, será minha próxima experiência.

Outra questão importante: o ideal é usar sabonetes com pH ácido. Os sabonetes íntimos tem esse pH, que é igual ao da genitália. Os demais sabonetes que usamos na pele: protex, dove, Lux, etc tem pH alcalino, portanto, use os sabonetes de pH alcalino na pele saudável e use o sabonete íntimo para a genitália.

sábado, 2 de julho de 2011

Cup cake na caixinha com bolinhas, para comemorar 2 meses de blog!

Este blog completou 2 meses hoje! Nem acredito que estou conseguindo escrever com uma certa freqüência... aos trancos e barrancos, entre uma atividade e outra, de madrugada... Mas está valendo à pena. Vira um vício e meu namorado tem ciúme do blog, vê se pode?! Eu dedico este post ao meu irmão, blogueiro nato, mais experiente, que me dá muita força elogiando e criticando. À minha mãe (que parece mãe de Miss) divulga até para o porteiro, às minhas pacientes, às minhas amigas antigas e às novas amigas (vocês, que estão sempre exibindo seus comentários), aos meus alunos que comentam os posts durante as aulas, à Lu que divulgou no "Minha Pele..." e o blog bombou! Obrigada pelo apoio,  povo!

Juntando o meu aniversário com o do "Toque", estreei na cozinha arriscando uns mini cup cakes, com a ajuda da minha amiga Keyla, claro. Me senti numa sala de cirurgia realizando uma importante operação. A equipe era composta por mim,  minha assistente de bolos, Dra. Keyla (que é dentista) e a instrumentadora, a Iracema, minha assessora de assuntos domésticos (na verdade é quem resolve a minha vida domiciliar). Já perceberam que eu e a cozinha não somos muito íntimas? Melhor dizendo, não somos nada íntimas, a menos que esteja na hora de comer. Estava tudo indo muito bem, minha amiga foi embora e minha mãe chegou na cozinha, sentiu o cheirinho de bolo e abriu o forno. Comentário: "ahh vocês fizeram os bolinhos com massa de chocolate também!". Ah que bom, dessa vez minha mãe preferiu chamar os cup cakes de bolinhos ao invés de pancakes. Mas de repente me bateu um certo desespero.Eu não fiz bolinhos de chocolate. Usei apenas massa branca. "Os cup cakes queimaram!". A massa estava tão queimadinha que parecia mesmo de chocolate. Pelo menos queimaram apenas alguns, os da última fornada.  A maior parte ficou ótima!  Cup cakes prontos eu os coloquei na caixinha de bolinhas iguais as do "toque ginecológico" que a Keyla me presenteou. Muito fofas! Eu precisava mostrar p/ vocês meu primeiro engenho comestível. Abaixo, a equipe (a Iracema não gosta de aparecer em fotos) e a caixinha de bolinhas.


Antes de finalizar, já que o assunto é o blog e este blog é sobre informações médicas, eu recebo periódicos do ONE HEALTH e da última vez o assunto foi sobre a busca de informações sobre saúde na internet. Achei a matéria muito importante e trouxe para vocês, resumidamente:

Cada vez mais ocorre o uso crescente da rede por leigos em busca de informações médicas. Os brasileiros estão em quarto lugar dentre os países que mais buscam informação médica pela internet, segundo o London School of  Economics. É importante lembrar que qualquer pessoa pode publicar um texto na internet. Quem procura informação médica na rede deve se informar a origem do site e desconfiar se é um site de médico que vende remédios (ilegal e anti-ético), por exemplo. Muito cuidado com comunidades em que a pessoa faz uma pergunta e várias outras pessoas respondem. (eu vejo cada absurdo!!!). O acesso ao conteúdo on line sobre medicina mudou para sempre a relação entre médicos e pacientes. Muitos pacientes chegam ao consultório com páginas impressas sobre o assunto a ser tratado, mas o pior é que as pessoas se fixam aos aspectos negativos de um tratamento, aos efeitos colaterais, e acabam se desesperando.


Por fim, a matéria termina com dicas para navegar sem trauma:



• Uma pesquisa na internet não substitui a ida ao médico
• Veja quantos acessos o site tem. Um número grande de usuários significa que o endereço é relevante
• Lembre-se que medicina não é uma ciência exata e que a eficiência de cada tratamento depende de fatores individuais
• É ilegal a venda de tratamentos e remédios pela internet
• Faça pesquisas em sites de instituições, sociedades de classe, universidades e hospitais
• Checou se seu médico tem um site? De repente ali você consegue encontrar todas as informações que precisa

Foi pensando nas pessoas que buscam informações médicas na internet que selecionei uma lista de sites seguros em vários assuntos médicos e coloquei lá no final da página do blog, assim que comecei a escrever. Vocês já viram?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Já vi de tudo nesta vida III

Sexta -feira à tarde no Ambulatório de ensino da faculdade:
_Então, Sra. Maria, em que posso ajudar?
_Há 3 dias apareceram umas bolinhas entre as pernas com muita dor e ardência, minha filha não sabe mais o que fazer.
_Como assim sua filha não sabe o que fazer? Ela tentou tratar a senhora?
_Não, doutora, que é isso? A gente fica doente e tem que vir ao médico.
_(...) então vamos examinar
_Mas quem está com as bolinhas é a minha filha, ela não pôde vir, tá muito doentinha.

Consulta no posto de saúde

_Doutora, me passaram um creme com 7 aplicadores pra eu colocar 1 por noite dentro da vagina antes de dormir. Vim porque ainda faltam 4 dias e não sei se vão caber todos eles lá dentro não. Tá incomodando muito e não to nem podendo ir trabalhar!

Na recepção do consultório (uma paciente e minha secretária)

_ eu não trabalho com cheque, vocês aceitam cartão?
_Infelizmente não, senhora.
_aceitam visa vale ou ticket refeição?
_como assim, senhora? aqui é um consultório médico
_Mas vocês tinham que aceitar! Se vocês não tem o meu plano vocês tinham que dar um jeito de receber o pelo pagamento da minha consulta de alguma maneira. 
_sim, senhora,  em cheque ou dinheiro.